Neve e Rosa
Com toda a certeza a etapa de hoje do Giro, a penúltima, ficará na memória durante muito tempo. A juntar à grande inclinação da última subida e ao cansaço de 3 semanas de prova, a neve fez-se sentir de forma acentuada. Nibali acaba assim o Giro em grande plano.
Com a vitória de hoje, Nibali consegue a primeira vitória numa etapa em linha neste Giro, apesar de já ter vencido a crono-escalada, esta foi a primeira ocasião em que o italiano de 28 anos sentiu o prazer de cortar a linha de meta com todos os rivais atrás de si.
O ataque que deu a vitória a Nibali, e a neve como pano de fundo, são o retrato perfeito deste Giro, no qual a neve e os ataques foram uma constante.
Nibali chegou ao alto de “Tre Cima di Lavaredo” com uma etapa impecável e sem erros, sem nunca sequer ter “tremido” ou hesitado. No final disse não ver a mãe desde o Natal, pois entre estágios e competição o tempo livre escasseia, e um atleta de alta competição tem muitas vezes que abdicar do tempo com a família em prol da carreira. Fazendo as contas atrevo-me a dizer que valeu a pena. Nibali lidera a prova desde a oitava etapa, e com o Giro a terminar amanhã conquista assim a sua segunda grande volta, depois de ter vencido a Vuelta em 2010.
Apesar de todo o seu protagonismo, a etapa de hoje pôs em destaque, uma vez mais, dois colombianos, Rigoberto Urán (Sky Procycling) e Carlos Alberto Betancur (AG2R La Mondiale). Os dois têm dado espetáculo ao longo deste Giro, e hoje, uma vez mais, isso comprovou-se. Betancur furou ainda na primeira das duas subidas, situadas nos últimos 25km, o que obrigou a um esforço extra para reentrar no grupo dos favoritos. Aí o ritmo era forte, com a Cannondale a querer controlar a fuga para na parte final poder apostar na vitória de Damiano Caruso. Com os mesmos planos estava a equipa de Samuel Sánchez, Gorka Verdugo, que aspirava uma vitória de etapa por parte do mesmo. Depois de ter reentrado no grupo dos favoritos, e de passar algum tempo na “cauda” do mesmo, Betancur foi obrigado a parar de novo para trocar de bicicleta. Desta vez foi a Saxo-Tinkoff a querer dificultar a vida ao colombiano, aproveitando o seu duplo azar para endurecer a corrida na tentativa de decidir a classificação da juventude a favor de Rafal Majka.
Betancur conseguiu pela segunda vez reentrar no grupo dos favoritos e aí permaneceu na “cauda” do mesmo, o que pode ser visto como falta de forças ou uma forma inteligente de evitar o desgaste. Com apenas 23 anos, Betancur mostrou-se bastante inteligente ao não deixar ser vencido por ciclistas muito mais experientes.
Quando Rafal Majka passou para a frente, Betancur posicionou-se na sua roda, e quando Nibali desferiu o ataque da vitória, foram estes os que melhor aguentaram. Com o passar dos quilómetros, os dois colombianos foram os únicos sobreviventes. Esta situação beneficiava ambos, Rigoberto Urán tentava chegar ao segundo lugar da geral enquanto Betancur lutava pela conquista da camisola branca, símbolo da liderança da juventude. Na parte final Betancur acabou por ceder terminando no quarto lugar, atrás de Nibali, Urán e Fábio Duarte.
A etapa de ontem foi cancelada devido ao mau tempo, e embora a de hoje tivesse sofrido algumas alterações ao percurso pela mesma razão, podemos afirmar sem dúvida que foi uma etapa que ficará na história do Giro durante muito tempo.
Fontes: https://blogdebicicleta.blogspot.pt
Sábado, 25 de maio de 2013
Crise de Pontos
Portugal procura pontos para poder estar bem representado nos próximos campeonatos do mundo de estrada, em Florença. Será um percurso bastante complicado, onde novamente se vai especular sobre aquilo que Rui Costa poderá fazer. Haverá também espaço para André Cardoso, que nos tem habituado a um bom nível em Mundiais.
No ano passado o apuramento não correu como era esperado, e apenas houve espaço para quatro ciclistas elites e nenhum sub-23. Daqui se podem tirar conclusões sobre o panorama do ciclismo nacional. Nos mundiais do ano passado foi obtido o melhor resultado de sempre de um ciclista português na prova de fundo, através do 11º lugar de Rui Costa, apenas a 5seg do belga Philippe Gilbert. André Cardoso foi 30º, Sérgio Paulinho 71º, e Bruno Pires foi obrigado a abandonar a prova vítima de queda e furo.
Nota-se um esforço da Federação Portuguesa de Ciclismo em ir a provas internacionais de sub-23 à procura de pontos que permitam o apuramento de mais ciclistas para os Mundiais. Exemplo disso foi a participação portuguesa na Volta a Berlim, onde Rafael Reis conseguiu o 25º lugar da geral, estando em grande destaque no contrarrelógio individual de 19,2km, no qual obteve o 5º lugar apenas a 14seg do vencedor.
Assim, até à data foram conquistados três lugares para a prova de elites, e apenas um lugar nos sub-23. Dificilmente iremos conseguir melhor que isso.
A única prova continental que dá destaque aos ciclistas portugueses é a Volta a Portugal, e com a mesma a terminar após 15 de agosto, data em que fecham as contas para o apuramento, Portugal vê-se com poucas opções. Desta forma resta conquistar pontos noutras provas. As provas internacionais em Portugal são poucas, e nas que existem, os pontos acabam por ser ganhos por ciclistas estrangeiros, pois os melhores ciclistas portugueses emigram, e a maioria dos que emigram não consegue amealhar pontos nas provas que faz. Parece que qualquer coisa não encaixa, mas não se pode obrigar os melhores portugueses a andarem em provas menores, nem obrigar os outros a ir além das suas capacidades.
Pior se encontra a situação vivida nos sub-23. Portugal não tem nenhum ponto no ranking sub-23, porque, a meu ver, não aposta na formação. Os melhores sub-23 nacionais estão em equipas amadoras, e as equipas continentais são formadas essencialmente por ciclistas na segunda metade da sua carreira, ou por jovens, que iludidos pelos seus sonhos, se sujeitam a correr a baixo custo.
Sexta-feira, 24 de maio de 2013
"Etapas estrangeiras"
A maior parte dos adeptos não gostam que a sua volta comece fora do país. Julgo ser consensual que isso acaba por tirar um pouco a essência da mesma. Os ciclistas também não gostam dos percursos urbanos que muitas vezes são obrigados a fazer nas suas deslocações ao estrangeiro, já que muitas vezes as mesmas coincidem com o seu dia de descanso, que assim acaba por não ser descanso já que grande parte do dia é passado em deslocações. Mesmo assim os organizadores tentam encontrar um equilíbrio entre tradição e lucro.
Em 2005 e 2006 a Volta a Portugal não teve a etapa da Torre (Serra da Estrela), porque nem o município de Seia nem o da Covilhã pagavam a quantia pedida pela PAD (Produção de Atividades Desportivas). Durante os últimos 15 anos a Volta tem andado em torno da Torre e da Senhora da Graça.
Assim, as idas ao estrangeiro não funcionam apenas como meio para vender partidas e chegadas, é importante perceber que os dois principais produtos que o ciclismo tem para oferecer são a publicidade e o entretenimento. Explicando de forma simples, os municípios pagam para ter partidas e chegadas porque a prova gera entretenimento que atrai público, e esse público, por sua vez, vai às cidades consumir, o que gera receitas para a cidade. Outro género de receitas geradas indiretamente se obtêm com a publicidade que é feita para todo o mundo através da comunicação social.
Levar o Tour, Vuelta ou Giro a países como a Bélgica ou Reino Unido é uma forma de conquistar novos adeptos. Desta forma quanto mais adeptos a prova tiver, mais argumentos têm os organizadores para a negociação dos seus contratos com todos os outros patrocinadores. Assim, com uma ida ao estrangeiro os organizadores ganham dinheiro imediato e a longo prazo adeptos.
Ainda que estas incursões pela Europa roubem parte da identidade das provas, vieram para ficar pois funcionam como um escape à crise económica. Uma vez que geralmente são na primeira semana, não substituem nem roubam espaço às etapas de montanha, as mais características de cada grande Volta.
Terça-feira, 21 de maio de 2013
Poderão os “três grandes” regressar ao ciclismo?
Por que razão as equipas de ciclismo não têm um nome de clube semelhante ao que acontece no futebol? Esta é uma questão que surge com alguma frequência em seguidores menos atentos desta modalidade. Haverá ainda aqueles que a seguem e talvez não se tenham questionado acerca disto. Existem várias razões.
Uma das razões, e talvez o maior problema que identifico no ciclismo nacional, é a falta de vontade de inovação e de adaptação ao presente. Outro problema é o avançar para a frente olhando e chorando um passado que não volta mais. É preciso perspetivar o futuro e planear de que forma nos podemos posicionar nele, só assim o ciclismo evolui.
Um dos homens que contraria esta tendência, estando sempre aberto a mudanças sem medo de inovar, e que tanto tem feito pelo ciclismo nacional nos últimos tempos, é o Carlos Pereira. Carlos Pereira venceu a Volta a Portugal do ano passado com a equipa Barbot/Efapel, e tem novamente este ano a equipa mais forte do pelotão nacional. Sendo diretor desportivo da Efapel/Glassdrive, possui ainda várias empresas ligadas ao ciclismo. É notável o seu contributo nesta modalidade, sendo ele um dos mais sonantes nomes do ciclismo nacional.
Outra razão é o facto de os clubes terem mudado a sua maneira de estar no desporto. Contrariamente ao passado, em que os clubes ambicionavam o maior número possível de vitórias nas diferentes modalidades, hoje em dia limitam-se a contratar futebolistas, no desejo de poderem vender os mesmos no futuro a preços superiores, e assim obterem lucros. É compreensível que assim seja, seguindo a tendência da europa e de grande parte do mundo, em que o futebol impera sobre outros desportos.
Às diferentes modalidades, as direções exigem que sejam financeiramente autónomas. Cada uma deverá obter o seu lucro ou pelo menos pagar as suas despesas. Assim está excluída a hipótese de regresso do FC Porto, Sporting ou Benfica ao ciclismo nacional, já que no ciclismo não existem bilheteiras e as únicas fontes de lucro vêm dos patrocinadores.
Os dois últimos projetos com estes clubes correram mal. No ano de 2007, a Lagos Sport criou a Lagos Bike, empresa que gerou a equipa de ciclismo do Benfica. À partida tinha dois objetivos, obter receitas para cobrir os encargos da equipa de ciclismo (cerca de 2milhões de euros), e se possível obter lucro. O segundo objetivo passaria por aumentar o interesse das pessoas pela Volta a Portugal, e obter uma grande afluência das mesmas à estrada durante a prova. Esse objetivo foi conseguido. Com a entrada do Benfica no ciclismo, houve um maior interesse pela modalidade, embora a equipa tenho apenas durado dois anos. O aumento de interesse pela modalidade iria refletir-se nas receitas de patrocínios à prova.
Nos dois anos que esteve na estrada não ganhou nenhuma vez a Volta a Portugal, sendo o melhor resultado da equipa o 3º lugar do espanhol Ruben Plaza em 2008. Assim o principal problema da equipa não seria de natureza desportiva, mas sim empresarial. A Lagos Bike nunca conseguiu patrocínios suficientes para cobrir as despesas da equipa, tendo esta acabado ao fim de dois anos sem conseguir pagar a totalidade dos salários aos atletas.
Outro projeto que correu mal foi a equipa de sub23 do Sporting. Extinta em 1987, a secção de ciclismo do Sporting surgiu de novo com a formação de uma equipa de sub23 em 2009, tendo como principal patrocinador a Bretescar. No entanto a equipa durou apenas um ano, ao que parece, pagando apenas o primeiro salário.
Atualmente bastam 200 ou 300 mil euros para ser patrocinador principal de uma equipa candidata à vitória da Volta a Portugal, desde que os responsáveis saibam quem contratar e como negociar. É um valor bastante reduzido se compararmos com a época de 2008, em que o Benfica tinha um orçamento de cerca de 2milhões de euros. Estando associado a um dos três grandes, 300 mil euros é suficiente para fazer uma grande equipa no contexto nacional. E essa associação a um dos três grandes gera grande poder de influência sobre os seus adeptos. Porém, essa mesma razão pode ser desvantajosa pois tem um efeito contrário nos adeptos dos clubes rivais.
Depois de vários argumentos que rejeitam a possibilidade de uma associação entre patrocinador e um dos “três grandes”, a principal causa que impede essa possibilidade é o “exagerado” mediatismo que surge em volta do nome FC Porto, Sporting ou Benfica. A Sagres Zero chegou a associar-se à equipa do Benfica em 2007, tendo essa parceria terminado ao fim de sete meses, pois para os adeptos e comunicação social, a equipa era apenas o Benfica.
É muito penalizador para qualquer patrocinador ver que a sua equipa é conhecida apenas pelo nome de Benfica, FC Porto ou Sporting, enquanto as outras são conhecidas pelo nome do patrocinador. Pegando na Volta a Portugal do ano passado, a Efapel e a Glassdrive tiveram um grande protagonismo por parte da sua equipa, coisa que não aconteceria se a equipa tivesse o nome de Efapel/Benfica ou Glassdrive/Benfica, pois neste caso o nome Benfica seria o mais destacado.
Equipas dos “três grandes” poderiam ser possíveis se os adeptos e a comunicação social tratassem as equipas pelo nome do patrocinador. Mas esta já é uma guerra antiga. Os diretores desportivos sabem bem a importância de dar retorno aos seus patrocinadores, por isso se referem às equipas pelo nome do patrocinador em vez do nome do clube ou da cidade.
No entanto, os meios de comunicação procuram chegar ao maior número possível de público, por essa razão tratam as equipas pelo nome do clube, já que é mais fácil para qualquer pessoa identificar a equipa em questão.
Não é impossível o regresso de uma equipa dos “três grandes” ao ciclismo nacional, embora a curto prazo isso seja demasiado complicado, dada a crise económica que afeta o nosso país e a contenção das empresas em apostar em técnicas de publicidade e marketing.
Quarta-feira, 8 de maio de 2013